Presidente da Conferência Episcopal alerta para incapacidade de travar conflitos armados
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, José Ornelas, alertou hoje para a incapacidade da comunidade internacional para travar os conflitos armados e o “negacionismo cego da situação crítica da Terra”.
Na abertura da Assembleia Plenária do episcopado, em Fátima, José Ornelas afirmou que “na Ucrânia, em Gaza e no Líbano, bem como em tantas outras geografias do mundo, como o Iémen, o Sudão e muitos outros, sucedem-se conflitos que comovem com o seu séquito de miséria, fome, doença e destruição, que conduzem à perda dramática de vidas humanas, especialmente anciãos, mulheres e crianças indefesas e inocentes, que constituem a maioria das vítimas deste desvario”.
“A situação desastrosa que se vive em Gaza merece especial atenção e solidariedade. Continuamos a afirmar a necessidade da libertação de todos os reféns e o respeito pelas populações que estão a ser tratadas em transgressão de todos os princípios e acordos internacionais, bem como dos valores da mais elementar humanidade, causando dezenas de milhares de mortos e um número muito maior de feridos, sendo 70% destas vítimas mulheres e crianças”, disse o presidente da CEP.
“Pode-se ser um ser humano e esquecer esta brutalidade?”, questionou.
José Ornelas adiantou que, no decurso dos trabalhos que hoje começaram em Fátima, os bispos discutirão “modos concretos para ir ao encontro de quem tanto está a sofrer” em Gaza.
“Por outro lado, os ataques ao equilíbrio ecológico levam à intensificação da frequência e da força destruidora dos desastres naturais, atingindo níveis que fazem temer a irreversibilidade dos danos”, disse o também bispo de Leiria-Fátima.
O prelado lamentou que, “perante este quadro assustador”, a comunidade internacional pareça “cada vez mais frágil e incapaz de deter as armas e interesses corporativos, para encontrar solução para os conflitos e para o negacionismo cego da situação crítica da Terra”.
Na sua intervenção, José Ornelas sublinhou ainda a atenção que a Igreja portuguesa está a dar a Moçambique, e à situação que “o país atravessa, com ataques às populações e protestos após as eleições”, bem como os contactos que tem estabelecido com a Conferência Episcopal de Espanha, em solidariedade “com a dor [das vítimas] da tremenda tempestade que assolou Valência e a região circunstante”.
O discurso de abertura do presidente da Conferência Episcopal ficou ainda marcado por um recado dirigido aos políticos portugueses, tendo em conta que, “em Portugal, os últimos meses acentuaram a polarização política, imprópria para regimes democráticos e que parece esquecer as conquistas que mudaram o rumo da História de Portugal, há 50 anos”.
“O equilíbrio parlamentar só tem sentido se for agente da dignificação da política e as mulheres e homens que ocupam cadeiras de poder não podem defraudar as cidadãs e os cidadãos que os elegeram para contribuir para o bem de todos, a dignidade de cada vida e a afirmação de projetos que são garantia de um futuro melhor para toda a sociedade”, sublinhou.
A Assembleia Plenária da CEP decorre até quinta-feira, com os bispos a debaterem, entre outros temas, a questão das compensações financeiras às vítimas de abuso no âmbito da Igreja Católica.
O tema tem estado na ordem do dia desde que, em abril, e após meses de debate, a CEP aprovou a criação de um fundo, “com contributo solidário de todas as dioceses”, para compensar financeiramente as vítimas de abuso sexual no seio da Igreja Católica em Portugal.
Os bispos portugueses vão debruçar-se também sobre o documento final da Assembleia Geral de outubro do Sínodo dos Bispos, que decorreu em Roma. A pastoral juvenil, o Renovamento Carismático Católico (RCC) em Portugal ou o Jubileu de 2025 serão outros temas a marcar os trabalhos.
JLG // FPA
By Impala News / Lusa
Siga a Impala no Instagram