Reunião de Bruno de Carvalho e staff “foi para amedrontar”, diz Varandas
O presidente do Sporting, Frederico Varandas, disse hoje na 27.ª sessão do julgamento do ataque à Academia que o ex-presidente Bruno de Carvalho fez uma reunião com o staff na véspera da invasão de Alcochete para “amedrontar os funcionários”.
O líder sportinguista, que à data era o diretor clínico do clube, confirmou ter estado presente numa reunião em 14 de maio, no dia seguinte à derrota (2-1) com o Marítimo e na véspera do ataque à Academia, na qual estiveram presentes elementos do departamento clínico, secretários técnicos, roupeiros, o diretor para o futebol, Manuel Fernandes, o ‘team manager’ André Geraldes, o administrador Carlos Vieira e o antigo presidente Bruno de Carvalho.
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“Foi uma reunião surreal. Bruno de Carvalho disse ‘estou farto que me enfiem o dedo no cu’ e que a Taça valia tanto como um furúnculo no cu. Disse ‘isto vai mudar completamente’ e que queria ‘toda a gente no treino amanhã à tarde'”, explicou Frederico Varandas, atribuindo um tom “desafiador” ao discurso do antigo presidente, quando este, “de dedo espetado”, acrescentou “amanhã, aconteça o que acontecer, quero ver quem continua comigo”.
Questionado sobre a interpretação das palavras de Bruno de Carvalho, Frederico Varandas – que foi ouvido na qualidade de representante do Sporting, assistente do processo – confessou ter entendido que “algo de anormal estaria para acontecer”, embora tenha admitido que se registava já “um crescente de tensão” entre adeptos e a equipa.
Paralelamente, o atual presidente do clube de Alvalade revelou também ter falado com Jorge Jesus no final da reunião entre Bruno de Carvalho e a equipa técnica, uma das três reuniões conduzidas pelo antigo líder do Sporting no dia 14 de maio, e que o ex-treinador dos ‘leões’ lhe admitiu que tinha sido demitido do comando técnico.
“Houve três reuniões. A primeira foi com a equipa técnica e no final dessa reunião o ‘mister’ ligou-me e disse ‘Acabou, doutor. Fui despedido'”, adiantou Frederico Varandas, declarando que soube da hora do treino de dia 15 pelo então secretário-técnico, Vasco Fernandes: “Tenho ideia de que [Bruno de Carvalho] confirma com André Geraldes que o treino seria às quatro da tarde. Normalmente, o treino seria de manhã, mas estaria sempre pendente de confirmação”.
No final da audição de Frederico Varandas, o advogado de Bruno de Carvalho, Miguel Fonseca, pediu uma acareação entre o atual presidente do Sporting e as várias testemunhas que estiveram na reunião de 14 de maio de 2018 entre o staff e o ex-presidente, por considerar que existiam “discrepâncias” entre os testemunhos.
Contudo, a juíza Sílvia Pires indeferiu o pedido, defendendo que este era “descabido” e que “discrepâncias são normais”.
O julgamento prossegue à tarde com testemunhas de defesa e com a audição do futebolista Freddy Montero, que joga nos Estados Unidos.
O processo do ataque à Academia de Alcochete – onde, em 15 de maio de 2018, jogadores e equipa técnica do Sporting foram agredidos por adeptos ligados à claque Juve Leo – tem 44 arguidos, acusados de coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Bruno de Carvalho, à data presidente do clube, ‘Mustafá’, líder da Juventude Leonina, e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting, estão acusados de autoria moral de todos os crimes.
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