Vila de Amizmiz, em Marrocos, tornou-se acampamento improvisado entre ruínas
Uma parede, onde ainda estão duas botas penduradas e alguns utensílios sobre as prateleiras torcidas, foi o que sobrou da oficina de um sapateiro, na vila marroquina de Amizmiz, devastada por um sismo na sexta-feira.
Dezenas de casas ruíram nesta vila berbere a 50 quilómetros a sul de Marraquexe, na entrada da cordilheira do Atlas, em Marrocos. Amizmiz tem cerca de 11 mil habitantes, mas muitos perderam a vida no terramoto de sexta-feira passada, que causou mais de 2 mil mortos e acima de dois milhares de feridos.
Sismo de 7 na escala de Richter atingiu Marrocos na sexta-feira
Amizmiz está hoje transformada num acampamento: nas praças, terrenos descampados ou à beira da estrada, multiplicam-se as tendas que agora servem de abrigo a centenas de pessoas cujas casas se desmoronaram ou ficaram inabitáveis pelo abalo, que atingiu uma magnitude de 7,0 na escala de Richter, segundo o Instituto Nacional de Geofísica de Marrocos – o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) registou a magnitude do sismo em 6,8.
Os detritos cobrem várias ruas e é preciso trepar por montes de pedras, restos de paredes, utensílios como panelas e cabos de eletricidade para atravessar para o outro lado. Praticamente todo o comércio está fechado, à exceção de duas ou três lojas à entrada da vila, onde agora se abastecem os militares que estão a prestar apoio e equipas de socorristas enviadas por Espanha.
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“Tenho medo de regressar a casa. É muito perigoso”, disse Talhaouni Aicha, de 48 anos. A mulher e a família, num total de seis pessoas, vivem nas tendas, situação que deverá prolongar-se por “um ou dois meses”. Ao seu lado, a filha relatou que as escolas ruíram, bem como os Bancos. Só hoje regressou a eletricidade, porque depois do sismo, a vila ficou sem luz, água e comunicações.
“No primeiro sismo, saímos de casa. No sábado de manhã, a terra vibrou um pouco”
Zenuba, de 69 anos, está a dormir ao relento desde sexta-feira à noite, num pátio de terra batida e galinheiros, também destruídos e com animais mortos. O prédio de dois andares onde vivia a mulher está rachado de alto a baixo. “A casa está grave. Dormimos na rua, não temos escolha”, lamentou. Ibrahim, com “perto dos 80 anos”, vive ao lado e a sua casa teve menos danos.
“No primeiro sismo, saímos de casa. No sábado de manhã, a terra vibrou um pouco”, relatou o idoso, vestido com uma túnica até aos pés e apoiado numa bengala. Nos acampamentos, as famílias acumulam alguns sacos com pertences e dormem sobre colchões e mantas. Com pedras, improvisam fogões para cozinhar. Não há água corrente.
“O meu pai ficou em choque. Não consegue andar”
À beira da estrada, três tendas albergam cinco famílias, com 12 pessoas. “O meu pai ficou em choque. Não consegue andar, não conseguia sair de casa”, descreveu Abdelilah Ommane, de 22 anos. A casa ficou “em perigo”, mas a família espera poder regressar dentro de alguns dias. “‘Insha’Allah’ [se Deus quiser]”, disse. “É difícil viver aqui, não podemos tomar banho”, comentou o jovem, observado pela mãe e duas outras mulheres que só falam o dialeto chleuh.
Fatima ainda tem a casa de pé, mas as paredes estão rachadas e muito do estuque caiu, bem como partes dos tetos. O maior receio da mulher é o prédio, de quatro andares, contíguo à sua casa e que está cheio de fissuras. “Olhe, hoje de manhã separou-se do prédio do lado”, disse, apontando para uma fissura que atravessa toda a fachada.
“Em 58 anos, nunca vi nada assim”
Junto ao hospital, que ficou inoperacional devido à instabilidade da estrutura, foi montado um hospital de campanha, onde alguns doentes estavam em camas dentro de uma tenda. A médica voluntária Ilham Houssein explicou que ali tratam “feridas superficiais”, fazem suturas e avaliam doentes que têm de ser transportados para os hospitais de Marraquexe, que estão em prontidão.
“Tentamos organizar a pouco e pouco, estamos organizar a farmácia. Temos uma grande quantidade de medicamentos que ainda estão por desembalar”, explicou a médica. À praça central da vila chegam dois camiões carregados. Dezenas de pessoas aproximam-se rapidamente e os militares organizam filas, antes de distribuírem cobertores. “Cada um ajuda o outro”, disse Omar, que garantiu nunca ter visto ada assim em 58 anos de vida.
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