Covid-19: Quando tudo falha – A radiografia do silêncio
Utentes e pessoal da Residência Geriátrica de Vila Verde sentem-se abandonados. Nenhuma entidade respondeu. O caminho desta reportagem é uma vereda de silêncios. Os afetados falam-nos em surdina e do Estado vem um perturbador silêncio.
Utentes e pessoal da Residência Geriátrica de Vila Verde sentem-se abandonados. Nenhuma entidade respondeu à WiN. O caminho desta reportagem é uma vereda de silêncios. Os afetados falam-nos em surdina e do Estado vem um perturbador silêncio.
A história transporta-nos até janeiro, mais precisamente até à última semana do primeiro mês do novo ano. Chega a notícia mais temida: existe um caso positivo no lar. Era um colaborador externo.
De imediato os utentes foram colocados nos seus quartos e confinados a esse espaço. Foram ativados os mecanismos previstos para este tipo de situação e, assim sendo, a delegada de saúde de Sintra, Noémia Gonçalves, foi colocada ao corrente da situação. Apesar disso, “não ligou nenhuma“, conta-nos um familiar de um dos utentes.
Os dias foram passando e a possibilidade de surgirem mais casos era motivo de enorme preocupação. O inevitável acabou por acontecer e uma das cozinheiras do lar testou positivo. Estávamos perante o segundo caso confirmado.
A direção da Residência apressou-se a comunicar a situação à delegada de saúde de Sintra que, mais uma vez, optou por não testar os idosos.
Cozinheira não foi considerada contacto de risco
De acordo com a mesma fonte, a responsável de saúde entendeu que a cozinheira não era considerada “contacto de risco” e explicou que “três ou quatro” infetados não era número suficiente para ser considerado como surto.
Aqui, importa esclarecer que a cozinheira do lar é também responsável por servir comida aos utentes, estando assim em contacto direto com os idosos.
Nos dias seguintes vários utentes e funcionários evidenciaram sintomas compatíveis com a covid-19. Foi então que o lar, perante a inércia das entidades de saúde, realizou testes TRAg (mais conhecidos como testes rápidos antigénio) a todos os elementos. Foram detetados mais casos.
Protocolo da DGS impede testagem a assintomáticos
A delegada de saúde de Sintra foi informada sobre os resultados e alertada para o facto de poderem existir ainda mais casos já que, como é sabido, este tipo de teste não apresenta a eficácia dos PCR. Como tal, a probabilidade de haver falsos negativos aumenta substancialmente.
Apesar dessa falibilidade, as orientações da Direção-Geral da Saúde são claras: só são testados com PCR aqueles que, apesar de resultado negativo, evidenciem sintomas. Neste caso, os elementos que testaram negativo estariam assintomáticos, razão pela qual não foram testados com este tipo de teste.
Uma semana depois, o lar realizou uma segunda ronda de testes rápidos – novamente pagos do próprio bolso – e, no somatório das duas testagens, foram detetados 28 casos num universo de 46 pessoas. Destes, existem pelo menos quatro óbitos a registar.
O Portal Impala contactou diversas vezes a Delegada de Saúde de Sintra para obter esclarecimentos, mas até à data da publicação não obteve qualquer resposta.
Também a direção da Residência Geriátrica de Vila Verde foi convidada a deixar o seu testemunho mas, mais uma vez, não foi recebida qualquer resposta.
Texto: Tomás Cascão
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