Dia do Não Fumador | «O tabagismo continua a ser a principal causa de morte evitável em Portugal»
Assinala-se, este domingo, 17 de novembro, o Dia do Não Fumador e sabe-se que o tabagismo continua a ser a principal causa de morte evitável em Portugal.
Assinala-se, este domingo, 17 de novembro, o Dia do Não Fumador. Sabe-se que o tabagismo continua a ser a principal causa de morte evitável em Portugal. «As consultas especializadas são escassas e não dão resposta a todos quantos delas precisam», refere Carlos Alves, consultor de Pneumologia do Centro Hospitalar Barreiro/Montijo e Coordenador da Pneumologia CUF Almada.
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«Segundo o Institute of Healths Metrics and Evaluation, em 2016 morreram em Portugal 11.800 pessoas por doenças relacionadas com o tabaco, o que corresponde a um óbito a cada 50 minutos. O tabaco foi responsável por 46,4% das mortes por Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica, 19,5% das mortes por cancro e por 12% das mortes por infeção respiratória inferior», refere ainda o profissional.
«Comecei a fumar quando tinha 13 anos»
Manuel começou a fumar ainda em criança e foi aos 55 anos que resolveu deixar. «Comecei a fumar quando tinha 13 anos. Era uma criança e, na altura, quase que fumar era visto como uma moda e dava até um certo estatuto», refere.
«De um dia para o outro decidi deixar. Consultei um médico que me ajudou e até hoje, 6 anos depois, nunca mais toquei num cigarro», afirma.
Síndrome de abstinência da nicotina
Segundo Carlos Alves, os sintomas da abstinência do vício variam de pessoa para pessoa tendo em consideração o nível de dependência de cada um.
«Reações são passageiras e tendem a desaparecer em algumas semanas. Dor de cabeça, irritabilidade, dificuldade de concentração, ansiedade e alteração do sono são alguns dos sintomas da abstinência do cigarro. Esse conjunto de reações desconfortáveis, que podem incluir o aumento do apetite, tristeza e até depressão, é chamado de síndrome de abstinência da nicotina», sustenta.
«O não entendimento da influência desta substância pode levar à desmotivação quer do fumador, quer do próprio médico levando em consideração que as recaídas são bastante frequentes», justifica o profisional.
«A saúde obrigou-me a deixar de fumar e foi a minha melhor decisão»
Teresa, 27 anos, deixou o tabaco por motivos de saúde. «Tinha 22 anos quando deixei de fumar. Descobri que sofro de enxaquecas crónicas e o médico colocou-me ‘entre a espada e a parede’», revela a jovem.
«O meu neurologista obrigou-me a escolher entre continuar a fumar e continuar a tomar a pílula. Decidiu continuar a tomar a pílula e, a partir desse dia, nunca mais fumei. Entrentato, também deixei de tomar a pílula e noto muitas melhorias no meu problema. A saúde obrigou-me a deixar de fumar e foi a minha melhor decisão», indica.
Desde que deixou de fumar, as crises de enxaquecas diminuíram de forma drástica. «Tinha crises de dois em dois dias que me incapacitavam quase a 100%. Atualmente, tenho cerca de duas ou três crises por ano.»
Médico alerta para a importância da cessação tabágica
A cessação tabágica é vista, pela comunidade médica, como uma medida de primeira linha e importância. «Todas as sociedades e muitas das Guidelines Internacionais colocam a cessação tabágica como medida de primeira linha com evidência A e reconhecem que ‘a cessação tabágica é uma das medidas mais importantes para melhorar o prognóstico dos doentes com patologia respiratória’.»
Contudo, a intervenção médica não tem de ser necessariamente demorada. «Uma intervenção de curta duração desde que se verifique uma comunicação empática é eficaz. A intervenção deve ser feita em todos os fumadores e não tem de ser necessariamente em consultas de apoio intensivo, a intervenção breve é eficaz. Devemos avaliar o grau de motivação do fumador e estabelecer com ele um plano para a cessação, incluindo a prescrição da terapêutica», diz Carlos Alves.
«Estive 3 anos sem fumar, mas não consegui aguentar mais»
Raquel, 33 anos, deixou o tabaco quando tinha 30 anos. «Fumei aquele que pensava ser o meu último cigarro no dia do meu 30.ª aniversário. Passados 3 anos, não consegui aguentar mais e voltei a fumar», revela. «Não foi um processo fácil, mas também não o considero impossível de ultrapassar até porque consegui aguentar 3 anos», disse.
Três anos depois, Raquel voltou a fumar. «Voltei por estupidez! Foi durante um período crítico da minha vida e refugiei-me no tabaco. Pensei: ‘É só um cigarro’, mas não foi e até agora não consegui voltar a deixar, nem sei se vou conseguir…», sustenta.
80% dos fumadores quer deixar de fumar, mas só 35% tenta
Dados de um estudo do Eurobarómetro revelam que « 80% dos fumadores têm vontade de deixar de fumar, mas só 35% tenta e sem ajuda apenas cerca de 5% tem sucesso». Por isso mesmo, Carlos Alves considera que «o papel do profissional de Saúde é fundamental».
Assim, «com o reconhecimento por parte de vários profissionais de saúde da importância da cessação tabágica surge a necessidade de aumentar o número de consultas», sublinha. Para o médico, as consultas são fundamentais para o sucesso. «A formação em cessação tabágica, a intervenção breve e a abertura de novas consultas de cessação tabágica de modo a evitar as longas listas de espera de algumas consultas de apoio intensivo são fatores fundamentais para o sucesso da cessação tabágica.»
A procura de ajuda junto dos profissionais de saúde tem vindo a aumentar e, por isso, é fundamental que «todos os profissionais de saúde intervenham nesta luta que é de todos e para todos e que os fumadores procurem ajuda, pois existe terapêutica muito eficaz», sustenta Carlos Alves.
Texto: Joana Ferreira
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