João Almeida. Paralisia do Estado leva Goucha a oferecer-lhe cadeira de rodas de 11 mil euros

João esteve esta quinta-feira, dia 27, no Você na TV! Manuel Luís Goucha ofereceu-lhe uma cadeira de rodas nova

«Sou o João Almeida. Tenho 29 anos e vivo em Belém com a minha mãe. Sou portador de paralisia cerebral desde nascença. Sou assim, não sei como é ser de outra forma. Como qualquer pessoa, tenho momentos de felicidade e de tristeza.» Da Presidência da República, da Segurança Social, da Santa Casa da Misericórdia, da Junta de Freguesia de Santa Maria de Belém (JFB) e da Câmara Municipal de Lisboa (CML), tal como do programa de Cristina Ferreira, a quem, em desespero, também pediu atenção, «não há respostas». «Não há, sequer, perspectivas» de um sonho simples, o da «oportunidade de uma vida digna». Nem mais, nem menos: «uma vida digna», apresenta-se João.

A história de João, publicada no nosso site no início do mês comoveu o apresentador Manuel Luís Goucha que esta quinta-feira, dia 27, ofereceu a João uma cadeira de rodas nova. Tal como a nossa reportagem noticiou, João precisa de uma cadeira elétrica adaptada às suas necessidades, aparelho pelo qual espera há dois anos. Depois da reportagem em casa de João, Manuel Luís Goucha entrou em contacto com a empresa Rehactivar, que vai fabricar a cadeira.

«Entrei em contacto com a empresa, com o Ricardo, e estabelecemos uma parceria. O valor do orçamento é de 11 mil e 500 euros e ele disse-me ‘eu abdico da nossa margem de lucro’. E a cadeira passou, com o IVA, para oito mil euros. Claro que oito mil euros é impossível para vocês e aí entro eu: dentro de três semanas tens a tua cadeira elétrica», revelou

“Está resolvido. É para isso que eu cá estou“, concluiu o apresentador da TVI, deixando  João em lágrimas. João é apenas o exemplo de um dos 636.059 portugueses que, de acordo com o último Censos, vive com deficiência. É o exemplo de um dos 575.893 portugueses em situação de carência económica ou de bens duradouros. João é um dos 93.916 cidadãos nacionais que sobrevivem com subsídio por deficiência, cerca de 600 euros, único rendimento do agregado: ele e a mãe, sua única cuidadora a tempo inteiro.

João vive em Lisboa, cidade que pretende chegar a 2021 com 200 quilómetros de ciclovias, tornando-a na «capital da bicicleta». A meta traçada em 2016 por por José Sá Fernandes, vereador das Estruturas Verdes da CML, é verde. A mobilidade e a vida de João são negras. Os políticos estabelecem prioridades e mexem-se de acordo com elas, mas na hierarquia dessas urgências o Estado é paralítico para com os quase 640 mil joões do País.

João vive numa casa de 40 metros quadrados, cedida pela GNR, a que chama lar. A viver a pouco mais de 200 metros do Tejo, há anos que não tem como atravessar a linha de comboio que separa a cidade do rio. «Há três anos», foi instalado um equipamento elevatório para permitir a pessoas de mobilidade reduzida atravessarem a linha. Avariou «uma semana depois» de inaugurado. Na JFB dizem-nos que a responsabilidade por manter o equipamento a funcionar é da CML. E da Câmara devolvem a responsabilidade à Junta. João continua a ver o rio à distância. «Gostava de ir à beira-rio tirar uma selfie.»

«Quando nasci, a minha mãe abdicou da profissão de cabeleireira para manter, até aos dias de hoje, a minha qualidade de vida. Tornando-se, assim, doméstica. Escrevo, ironicamente, no dia em que no Parlamento foi aprovado o Estatuto do Cuidador Informal», que a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social anunciou já ter assinado, mas que se mantém no emaranhado burocrático do Estado.

Estatuto do Cuidador Informal foi publicado em Diário da República em setembro de 2019, sensivelmente na altura em que João pediu socorro à televisão e a Cristina Ferreira. A partir daquela data, o Governo tinha quatro meses para o regulamentar. A ministra Ana Mendes Godinho faz o trabalho dela ao ritmo que se vê. Marcelo rebelo de Sousa promulgou o Estatuto do Cuidador Informal em agosto do ano passado, mas é no dia a dia que João sente a lentidão e a indiferença do Estado e da sociedade. Só os mais próximos lhe valem. Família, amigos, vizinhos, mas principalmente a mãe. «A minha mãe fez de mim o homem que sou hoje.»

Recorde esta reportagem aqui. 

Texto: Marta Amorim com Luís Martins | Fotos: Impala e DR

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