Porto Canal, a televisão sem vergonha do sotaque nasceu há 13 anos

Em entrevista ao Portal de Notícias, Pedro Carvalho da Silva, jornalista e coordenador de informação do Porto Canal, relembra o dia em que tudo começou.

«Boa tarde. A partir de agora, está no ar o Porto Canal. É uma estação de proximidade, sem provincianismos, mas com muita identidade.» Foi com esta frase, dita por Pedro Carvalho da Silva, coordenador de informação, que as emissões do Porto Canal começaram, há 13 anos.

O que recorda do momento em que a Porto Canal emitiu pela primeira vez?

Um misto de adrenalina e de expectativa. Foi tudo muito rápido. Recebi um telefonema na segunda-feira da pessoa que ia assumir a função de diretor de Informação para arrancar com as emissões logo na sexta-feira dessa mesma semana. A direção queria alguém com experiência jornalística e televisiva e já me conheciam, porque tínhamos trabalhado juntos na NTV, canal que foi a génese do que agora é a RTP informação. Fiquei profundamente feliz. Aceitei de imediato. Percebi a honra que me estava a ser oferecida, a de ter uma oportunidade única de trabalhar num canal de televisão da minha cidade. Adrenalina pela força de vontade e expectativa pelo que seria o futuro.

Sentia que estava a fazer história?

Como fiz parte da equipa original da NTV, em 2001, sabia bem que seria um momento para mais tarde recordar. Por exemplo, a Cristiana Freitas foi a primeira cara da NTV, a Alberta Marques Fernandes foi a primeira da SIC, o Pedro Mourinho foi a primeira face da SIC Notícias, a Clara de Sousa foi a da TVI… Atualmente existem muitos canais no cabo, mas em 2006 não eram assim tantos os denominados generalistas ou generalistas de informação. Percebi de imediato que podia fazer um pouquinho de história. Aliás, foi por isso que pensei na expressão de «estação de proximidade, sem provincianismos, mas com muita identidade». Queria, na medida do possível, dizer algo que marcasse, mas que fizesse sentido, sem parecer presunçoso ou que transmitisse a imagem errada daquilo que desejávamos ser como canal regional.

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A frase continua atual?

Absolutamente. Basta ver que estamos a viver uma conjuntura em que tanto se debate a Regionalização. Com a reforma da descentralização de competências já em curso, o fator identidade toma outro relevo. Atenção que não se trata de dividir o País. Trata-se de reconhecer a diversidade e defender as identidades regionais. O Porto Canal tem tentado, ao longo destes 13 anos, vincar uma identidade de canal de televisão que parte do Porto, mas em direção a todo o País. Sabemos que somos vistos hoje em dia até nas regiões autónomas e, com a chegada do FC Porto, a dimensão tornou-se mundial porque temos quem nos veja e, atenção, quem nos transmita inclusive feedback de vários países de vários continentes. Há portugueses em todo o Mundo.

Ao longo de mais de uma década, já foi a cara de vários programas, com características diferentes…

É verdade. Nessa matéria, sinto-me privilegiado e feliz porque o meu esforço e a minha dedicação surtiram efeito. Estudei para ser jornalista e a vida deu-me essa oportunidade. Já fiz de tudo e sinto-me bastante completo, devo confessar. A minha carreira sempre teve lado a lado as funções de reportagem e de apresentação. Assim sendo, desde campanhas para diferentes eleições até emissões especiais, grandes entrevistas, debates, diretos, noticiários, narração de jogos de várias modalidades, programas de cultura geral, fiz de tudo um pouco. Curiosamente, sendo a Política uma das minhas paixões, o único prémio de jornalismo que ganhei até hoje foi de Desporto.

Pensou que estaria aqui depois de tanto tempo?

Confesso que não. Tenho 41 anos e 18 de carreira. Estou no Porto Canal há 13, mas passei pela NTV, como já referi, pela TVI Porto e tive uma incursão muito gratificante de dois anos e meio no mundo da apresentação de entretenimento no AXN. Estou neste canal com muita paixão, porque é o canal da minha cidade e do FC Porto, o meu clube de coração. Sinto-me feliz e completo. Atualmente, o Porto Canal está a implementar uma nova dinâmica editorial, um registo agora liderado por um novo diretor de Informação, que é o Tiago Girão, que, para já, mantém confiança em mim nas funções que exerço há vários anos de coordenador da equipa de Informação e de pivô do Jornal Diário.

O Porto Canal continua a ser «uma maneira de o Mundo ver o Porto»?

Uma maneira de o País e de o Mundo verem o Porto. E o meio pelo qual vemos o País e o Mundo através do olhar do Porto. Não são jogos de palavras. É uma realidade porque no Norte – e em especial no Grande Porto – somos bastante críticos. Críticos construtivos, não destrutivos, e, sobretudo, estamos muito atentos.

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Faria sentido a aposta em mais canais regionais?

Acredito que sim. O País é pequeno, de facto, mas com imensa diversidade. Centralizar pode ser perigoso e redutor. As vozes das Regiões nunca deviam ser omitidas nem subjugadas. Podem e devem ser ouvidas.

Ser apresentador é um sonho de infância?

Ser jornalista é um sonho de infância. Ser apresentador é um complemento. Não nego que é um aspeto importante da carreira, mas não acho que seja vital. No que toca aos noticiários, por exemplo, considero que os pivôs devem ser profissionais credíveis e com forte base de conhecimento. Não gosto do conceito de pivôs carinhas larocas que simplesmente se limitam a ler o que outros escrevem. Denigre a imagem de pivô, que deve ser alguém que representa dignamente toda uma equipa, dá a cara pela credibilidade e não pelo sucesso ou pela vaidade pessoal. Em matéria de apresentação noutro registo que não o de informação, já não tenho uma interpretação tão séria como esta. Agora, uma coisa é certa: ao fim de todos estes anos de profissão, não tenho a menor dúvida de que o forte apoio familiar que sempre tive é a verdadeira base que me sustenta nesta luta diária que é o mundo da Informação.

Tem uma filha pequena. Como concilia os seus horários com a vida familiar? Ela já gosta de ver o pai na televisão?

Tenho uma menina de quatro anos que começou agora a pré-escola. É a minha máxima prioridade. Ela gosta de ver o papá na televisão durante uns minutinhos e depois quer é brincar ou ver os bonecos na TV. Típico da idade, suponho. Passo muitas horas a trabalhar, mas articulo-me bem com a minha mulher e temos um sólido apoio familiar. Por isso garantimos que a menina nunca perde a qualidade e o acompanhamento que merece ter.

Texto: Cynthia Valente | WiN Porto; Fotos: João Manuel Ribeiro

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