Psicólogo explica em que estado estão as relações amorosas hoje em dia

A «era do desapego», a dificuldade em expressar os sentimentos, os estímulos externos às relações, a sexualidade precoce, as redes sociais e os casamentos falhados mantidos por vergonha são alguns temas em discussão, explicados pelo psicólogo Fernando Mesquita.

Psicólogo explica em que estado estão as relações amorosas hoje em dia

Falar de amor e de relações é complexo e as opiniões chegam a dividir-se. Há quem prefira uma felicidade não compartilhada, quem não consiga estar sozinho(a) e necessite de uma companhia, quem não tenha tempo para pensar no amor – por questões pessoais ou profissionais -, quem prefira amores passageiros ou quem continue a acreditar que a uma bonita história de amor não se diz que não.

A verdade é que não há uma fórmula para fazer resultar uma relação amorosa, muito menos se as “condenações” partirem do interior de cada pessoa.
A felicidade compartilhada, a «era do desapego», a dificuldade em expressar os sentimentos, os estímulos externos às relações, a sexualidade precoce, as redes sociais, os problemas sexuais dos casais e os casamentos falhados mantidos por vergonha são alguns assuntos em discussão.

«Estamos constantemente no modo “fazer” ou “ter” e, raramente, nos dedicamos ao modo “sentir”»

De modo a perceber de que forma estão as relações amorosas hoje em dia e como as pessoas olham para as mesmas, falámos com o psicólogo e sexólogo, Fernando Mesquita.

Segundo o especialista, hoje em dia há «uma maior consciência» do que se deseja ou não numa relação. O facto de as pessoas serem «mais assertivas face às suas necessidade» é um dos aspetos positivos. No entanto, há o risco de se pensar que «o (a) parceiro (a) é responsável pela nossa felicidade», quando este(a) deve apenas ser «um acrescento à nossa felicidade e nunca o protagonista principal».

A verdade é que há quem acredite que a «era do desapego» veio para ficar e é preciso perceber o que estará na base disto. Será que “o amor” já deu tudo o que tinha para dar e “o desapego” venceu esta guerra? Para o psicólogo a resposta é simples e passa pelo facto de «muitas pessoas apresentarem dificuldade em expressar os seus sentimentos». Embora este fator não reflita falta de desejo de manter relações amorosas, a verdade é que as constantes influências externas que nos circundam contribuem para que não haja uma valorização do campo amoroso.

«Somos constantemente invadidos com estímulos externos, que nos “distraem”, impedindo-nos de “olhar” para dentro de nós! Estamos constantemente no modo “fazer” ou “ter” e, raramente, nos dedicamos ao modo “sentir”. Isso leva a que, em muitos casos, as relações se tornem superficiais. Com pouco sabor. E nos deixem com uma necessidade constante de procurar a novidade», explica.

Início de vida sexual precoce

Com a adolescência surge uma maior curiosidade pelo campo amoroso e sexual, sendo nesta fase que se iniciam os namoros e a sexualidade. Mas, terão os jovens conhecimento suficiente para iniciar a vida sexual ou estão a fazê-lo precocemente?

Segundo Fernando Mesquita afirma, com base em estudos, «os jovens que tiveram uma boa educação sexual tendem a escolher melhor o momento, o parceiro, e a usar preservativo«. Já «aqueles que não tiveram qualquer tipo de educação sexual» poderão dar início à vida sexual mais cedo «resultado de um maior (e mais facilitado) acesso a estímulos que os direcionam nesse sentido, como por exemplo o acesso a pornografia».

Redes sociais são o principal inimigo das relações?

A pergunta coloca-se. Com o avançar das novas tecnologias, as redes sociais e as aplicações que sugerem encontros amorosos é fácil conhecer pessoas e criar ligações, mesmo que supérfluas e momentâneas. Mas será a Internet a culpada pela fraca durabilidade ou o fim de algumas relações amorosas? O especialista não acredita nessa versão, apontando como razão apenas a forma e o propósito como cada pessoa usa a Internet. «Culpar a internet, ou qualquer outra coisa, como é o caso das redes sociais, é “desculpar” o nosso próprio comportamento!», afirma.

Fernando Mesquita acredita que as redes sociais vieram trazer uma «ânsia de reconhecimento». As pessoas têm necessidade de «se sentirem valorizadas, amadas e desejadas pelos outros», e isso, muitas vezes, acontece «pelo número de “likes” ou seguidores nas redes sociais». Isto acontece porque, segundo o psicólogo, existe «um vazio interno». «Enquanto não se tiver consciência que o principal desenvolvimento pessoal vem de dentro para fora, e não o seu inverso, permanece-se numa sucessão de relações amorosas, pois nenhuma será suficiente para acalmar a necessidade de nos sentirmos amados», acrescenta.

«Questões sexuais» motivam pedidos de ajuda

Por vezes, a dificuldade em expressar sentimentos e a constante influência de fatores externos pode levar ao fim de algumas relações. Em contrapartida, a procura de ajuda especializada para resolver questões do campo amoroso acontece, antes de qualquer desistência.

O sexólogo esclarece que a procura de ajuda acontece, maioritariamente, em casais entre os 20 e os 40 anos. Os motivos prendem-se, essencialmente, «com questões sexuais, tais como ejaculação prematura, dificuldade em atingir o orgasmo, disfunção eretil, adição sexual, dor sexual, entre outras».
Por outro lado, também as «dificuldades na comunicação, as questões associadas a ciúmes ou infidelidade, e a dificuldade em expressar emoções e sentimentos» são fatores importantes e que levam os casais a pedir ajuda.

Manter casamentos infelizes começa «a ser a exceção e não a regra»

Se para as faixas etárias mais jovens existe, por vezes, uma busca insaciável pela novidade, para os casais entre os 40 e os 80, ou mais anos, a forma de encarar as relações é diferente. Embora o psicólogo acredite que existam casos em que se continua a verificar a mentalidade de manter os casamentos infelizes, por vergonha de mostrar o fracasso dos mesmos, o oposto também acontece.

«Esses casos, felizmente, começam a ser a exceção e não a regra. Cada vez mais, independentemente da idade, as pessoas começam a compreender que não faz sentido permanecer numa relação onde não se é respeitado, valorizado, compreendido e … amado!», termina.

Texto: Marisa Simões

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