Dificuldade de relacionamento pode ser um sinal de alarme
Artigo de Opinião de Ana Machado, psiquiatra da UPPC
Artigo de Opinião de Ana Machado, psiquiatra da UPPC
A síndrome de Asperger consiste numa perturbação que afeta o desenvolvimento das capacidades de comunicação e de relacionamento de uma pessoa. Atualmente, esta perturbação atinge cerca de uma em cada duzentas pessoas, sendo mais frequente nos indivíduos do sexo masculino.
Desde a infância, as pessoas que sofrem desta condição neuropsiquiátrica apresentam dificuldades em se relacionar com o outro e comportamentos repetitivos, os quais podem gerar dificuldades em pequenas atividades do dia-a-dia. As dificuldades na interação social, que perturbam a criação de ligações afetivas, quer de amizade, quer conjugais, partem da dificuldade em interpretar comportamentos não verbais (expressão facial, gestos, modulação do discurso), e de se colocar no lugar do outro.
Além destes défices, indivíduos com síndrome de Asperger apresentam interesses restritos, muitas vezes com “ideias fixas” direcionadas a um assunto ou objeto em particular, e preferência por rotinas rígidas. Embora não haja atrasos no desenvolvimento da linguagem, é comum a presença de dificuldades na comunicação com os outros. Tendo em conta que interpretam tudo “à letra”, têm dificuldade em distinguir quando alguém está a falar a sério ou a brincar, e pouca facilidade em entender quando é que é a sua vez de falar numa conversa social.
As pessoas que sofrem desta perturbação apresentam-se também como indivíduos muito sensíveis aos estímulos, com reatividade a sons fortes, seleção de alimentos de acordo com cores ou texturas, e sensibilidade ao toque, à luz ou a cheiros intensos. É também frequente apresentarem inaptidão para atividades físicas e défices de coordenação motora, sendo muitas vezes descritos como “trapalhões”.
As primeiras alterações são habitualmente notadas pelos pais quando a criança começa a frequentar a creche ou a escola. Neste período surgem episódios de birras ou explosões de raiva quando as suas rotinas são alteradas e a criança tem dificuldades em brincar ou interagir com os colegas. Quando os sintomas são mais ligeiros, o diagnóstico pode ser feito apenas na vida adulta, sobretudo em etapas de vida que trazem mudanças importantes (fim do ensino secundário, primeiro emprego, morte dos pais ou de outras figuras de referência).
Não existem exames que diagnostiquem a síndrome de Asperger. A sua identificação é feita através de uma cuidadosa avaliação por profissionais treinados nesta área (pediatras do neurodesenvolvimento, pedopsiquiatras e psiquiatras). É importante fazer o diagnóstico atempado, pois isso permite uma intervenção imediata e direta sobre as dificuldades do doente, e planear um acompanhamento adequado na escola, no trabalho, na família, etc., de forma a promover ao máximo as potencialidades da pessoa.
Além disso, é frequente que as pessoas com síndrome de Asperger sofram de outras doenças psiquiátricas, tais como hiperatividade e défice de atenção, ansiedade e depressão. Caso isso suceda, é fundamental tratar simultaneamente essas doenças. Quando a família é chamada a participar neste plano de intervenção e cada elemento da família compreende o seu papel, é possível criar um ambiente facilitador da integração do doente no dia-a-dia.
Como tratamento para esta condição, a Unidade Psiquiátrica Privada de Coimbra (UPPC) dispõe de um programa de treino especializado para adultos com síndrome de Asperger, baseado na aquisição de estratégias para aplicação em situações sociais comuns, estratégias de comunicação, leitura de expressões emocionais e modulação do contacto visual e tom de voz.
A Unidade Psiquiátrica Privada de Coimbra tem por missão contribuir para o bem-estar da população através da oferta de cuidados de saúde, de atividades de formação e de investigação, na área da Psiquiatria e saúde mental, de acordo com padrões de referência internacionais. Para mais informações consulte: http://uppc.pt/
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