Estas estudantes de veterinária estiveram 14 dias a fazer voluntariado em Cabo Verde
Nesta crónica, Teresa, Alice e Carolina contam como foi a experiência de fazer voluntariado em Cabo Verde
Teresa, Alice e Carolina são estudantes de veterinária e estiveram como voluntárias em Cabo Verde
Dia 1 – Sexta-Feira, 12
A viagem para Cabo Verde começou atribulada. Após quase duas horas de espera pelo nosso voo para a Cidade da Praia, na Ilha de Santiago, lá embarcámos. Chegámos por volta das 19h30 locais, menos duas horas do que em Lisboa e mais doze graus! No aeroporto já nos esperavam três funcionários da Bons Amigos: o Gilson (Gilsinho), o Edson e o Paulo, que passou a ser o nosso motorista.
A primeira paragem foi o apartamento na Várzea que a Bons Amigos cedeu para a nossa estadia, a aproximadamente dez minutos da clínica. Mais leves depois de deixarmos as malas em casa, seguimos para passear com o Gilsinho e ter a primeira impressão da cidade. Como já esperávamos, vimos muitos cães “Vira-lata” soltos na rua; a festa na rua é constante, principalmente no passeio pedonal, onde há sempre muita música e pessoas de todas as idades a dançar aos ritmos cabo verdeanos. Sendo esta uma zona pouco turística, não pudemos deixar de reparar no espanto de todos por nos verem. Continuámos até ao Plateau, esta sim a zona mais turística da Praia, com muito comércio, cafés e restaurantes. Foi aqui que descobrimos que decorria já há alguns dias um festival de música Jazz (“Kriol Jazz Festival”), a que infelizmente já não tivemos oportunidade de assistir. Descemos então para a zona do Mercado da Sucupira, onde esperámos pela nossa boleia de volta ao aeroporto, desta vez para apanhar a Carolina. Já as três juntas, voltamos para casa.
Chegou ao fim do primeiro dia em Cabo Verde e já aprendemos a dizer “Estou bem” em crioulo – “Sta bue fixe”, e é como estamos!
Dia 2 – Sábado, 13
O dia começou às 7h30 da manhã com a surpresa de um banho de água gelada. Não é fria, é gelada! Pelo que nos disseram, é o primeiro ano que as águas das canalizações de Cabo Verde correm a esta temperatura. Seguimos para tomar o pequeno-almoço numa padaria portuguesa perto de casa – “Pão Quente” – onde finalmente encontrámos Wi-Fi.
Às 9 horas o Paulo apanhou-nos para nos levar à clinica e aproveitámos para levar todo o material doado que tínhamos trazido de Portugal. O edifício da clínica é maior do que esperávamos e a construção é bastante recente (a inauguração oficial será em Julho deste ano). Tem receção, sala de consultas, sala de banhos e tosquias, sala de cirurgia, sala de internamento, farmácia, sala de reuniões, zona de isolamento para pacientes infeto-contagiosos e sala de imagiologia ainda incompleta. Tem ainda varias áreas em construção: quartos que no futuro poderão alojar algum staff e voluntários, canil para o hotel e parque ao ar livre.
Nós as três dividimo-nos pelos vários departamentos da clínica: a Alice nas consultas, a Carolina na cirurgia e a Teresa no internamento. A Alice teve oportunidade de participar em seis consultas de desparasitação, já que os casos de sarna e outras parasitoses são muito frequentes e ainda assistiu à sutura de uma laceração na zona do cachaço de um cão e à castração desse mesmo animal. Já a Carolina auxiliou no banho e tratamento de um cão carregado de carraças, como nunca tivemos oportunidade de ver em Portugal, e ainda bem, dado que estas provocam anemia por se alimentarem do sangue do hospedeiro e são vetores de várias doenças graves. Ainda assistiu a duas cirurgias de esterilização de cadelas. Por fim, a Teresa ajudou a prestar assistência a uma gata envenenada, infelizmente muito comum em Cabo Verde; a um cão que sangrava do nariz há dois dias e a outro com Sarcoma de Sticker, tumor transmissível via sexual igualmente comum em países com muitos cães errantes. No internamento, estavam ainda animais que tinham estado envolvidos em lutas e dois cães atropelados. Nesta manhã de muito trabalho foram adotados dois gatos que estavam na clinica à espera de um dono, graças ao excelente trabalho de divulgação feito pela clínica acerca da importância da adoção.
Apesar de ao sábado a clínica fechar ao meio-dia, acaba por ser o dia de maior afluência, uma vez que é quando os clientes têm maior disponibilidade.
Durante a tarde passeámos pelo centro da cidade. Experimentamos a tradicional cachupa, que viemos a saber que pode ser feita com carne, peixe, vegetariana, ou na versão refogada, com ovo estrelado. Aproveitámos a vista privilegiada que a zona do Plateau (planalto) oferece, sobre o resto da cidade e sobre o mar, para tirar algumas fotografias.
Na equipa da associação Bons Amigos encontrámos pessoas muito empenhadas, motivadas para evoluir, que, todos os dias, com recursos limitados, fazem muito. A equipa parece ter bastante impacto na comunidade, junto dos donos, no que diz respeito à educação para as necessidades e cuidados médicos dos animais. A natureza solidária da associação passa por adequar os preços dos procedimentos às possibilidades dos donos. Para tentar obter outras fontes de rendimento, estão a desenvolver os serviços de tosquias, banhos, hotel para cães, entre outros.
Dia 3 – Domingo, 14
Domingo é dia de merecido descanso para a equipa da clínica.
Aproveitámos para relaxar na Prainha, a praia mais próxima do nosso apartamento, até onde fomos a pé. Nesta zona da ilha o mar é bastante turbulento e a areia é fina e escura. Rapidamente nos apercebemos de que esta é uma praia mais frequentada por locais que por turistas, o que acabou por se tornar numa oportunidade de contacto com a cultura praiense. Eram inúmeras as crianças que brincavam nas ondas, corriam e se rebolavam pela areia.
O sol estava forte, mas o vento constante tornava a temperatura mais agradável. No entanto, também proporcionou três costas escaldadas. O Gilson encontrou-se connosco na praia e passámos o tempo a conversar sobre os hábitos e a cultura cabo verdeanos. Ficámos a saber que, apesar de viverem numa ilha, muitos têm medo do mar e não se aventuram para lá da zona com pé. Esta praia tem infraestruturas bastante modernas, e um bar bem cuidado, onde fomos beber uma Coca-Cola.
Não pudemos deixar de reparar nos vários hotéis que estão a ser construídos ao longo da baía, de investimento principalmente chinês, que estão a engolir a paisagem local.
À noite, fomos beber uma cerveja num bar de rua na zona pedonal perto de casa, e sentir um pouco o que é a noite cabo verdeana.
Dia 4 – Segunda, 15
Segunda-feira foi dia de trabalho! Castrações de gatos e cães, muitas desparasitações, suplementos vitamínicos e continuação de tratamentos aos internados. Achámos curioso o procedimento da cirurgia de esterilização das gatas: o animal é colocado na mesa inclinada, com a cabeça para baixo, de forma a expor os órgãos e facilitar a cirurgia. Em Portugal nunca tínhamos ouvido falar desta técnica.
Aproveitámos os momentos de menor actividade para brincar com os cães disponíveis para adopção. Muitos deles são trazidos por pessoas que os encontram na rua, por vezes vítimas de atropelamento ou muito subnutridos. Na clínica são-lhes prestados os cuidados adequados gratuitamente e depois é divulgado que estão prontos para encontrar uma nova família!
Ao longo do dia também apareceram alguns clientes para banhos e tosquias. Estes procedimentos podem parecer simples mas, por vezes, são uma aventura! Entre cães com medo da água e outros que fogem ao ouvir a máquina de tosquia a funcionar, a sala de banhos e tosquias é geralmente um espaço de agitação!
Fomos almoçar a um restaurante improvisado numa casa privada em frente à clínica. A refeição estava muito saborosa apesar do nosso cepticismo inicial em relação ao espaço!
As tardes na clínica são mais calmas que a manhãs, mas há sempre que dar continuidade aos tratamentos e rever os casos do dia.
Depois do trabalho, ainda tivemos tempo de comer um gelado, e acabamos por jantar em casa e passar um serão descansado.
Dia 5 – Terça, 16
Hoje o dia na clínica foi desafiante! Deparámo-nos com casos complexos que, infelizmente, por aqui, parecem ser bastante recorrentes. Os atropelamentos são um desses casos, e, muitas vezes, levam a que seja necessário fazer a amputação de um membro. A maior parte dos animais parece adaptar-se bem à nova condição, mas o problema mantém-se, uma vez que até os cães e gatos com dono andam à solta na rua. Isto também leva a que apareçam casos de obstrução gastro-intestinal, por falta de controlo do que os animais comem.
Fomos confrontadas com o caso de uma cadela sub-nutrida com líquido no abdómen (ascite) e sinais cardio-vasculares, cujas necessidades ultrapassavam os meios de diagnóstico disponíveis. Pela primeira vez sentimos frustração mediante a falta de recursos.
No final do dia de trabalho ainda houve tempo para relaxar no “Sovaco de Cobra”. Este espaço tinha-nos sido recomendado pelos seus crepes e deliciosas caipirinhas. Tornou-se imediatamente no nosso espaço preferido, dos que já tínhamos conhecido. Está localizado numa zona residencial, com esplanada numa espécie de pátio, todo enquadrado por árvores e trepadeiras. O staff é extremamente simpático e tanto os crepes, salgados e doces, como as bebidas eram efectivamente muito bons. Por azar, quando começou a anoitecer, houve uma falha de luz na zona e fizemos parte da nossa refeição às escuras, enquanto a cozinheira trabalhava à luz das velas. O momento acabou por ser caricato e marcar a experiência.
Dia 6 – Quarta, 17
Quarta-feira foi mais um dia recheado de casos difíceis. Os tratamentos são feitos com base, principalmente, em sinais clínicos, devido à escassez de meios complementares de diagnóstico. Muitas vezes não é possível identificar com precisão a causa da doença, mas a equipa faz tudo o que pode para prestar o cuidado mais adequado.
Para a maioria dos donos, as vacinas têm um custo demasiado elevado, por isso, acabam por não as fazer. Isto leva a que haja grande ocorrência de doenças que já são raras em países em que a vacinação é prática regular.
Foi também dia de trocar os postos de trabalho entre cirurgia, consultas e internamento. Assistimos à melhoria de alguns animais que tinham sofrido acidentes, aos quais foram retiradas as talas e que iniciarão agora uma nova fase na sua recuperação. Foram várias as consultas a cachorros pequenos, alguns dos quais suspeitos de parvovirose, que acabaram por ficar internados. Esperamos que melhorem depressa!
Dia 7 – Quinta, 18
Hoje foi dia de campanha! O nosso dia começou mais cedo e às 9h já estávamos na zona de Lem Ferreira para começar uma campanha de desparasitação. Todo o material de que precisámos já tinha sido preparado no dia anterior numa mochila, e foi assim que percorremos o bairro, de casa em casa, para desparasitar e identificar os cães.
Na Bons Amigos está atribuída uma zona da cidade a cada funcionário. Aos responsáveis cabe estar a par do número de cães, dos seus problemas de saúde, saber se estão ou não castrados e ainda fazer estas campanhas de desparasitação com a regularidade necessária. De um modo geral, as pessoas ficam muito agradecidas por estarmos a poupar-lhes tempo e dinheiro e, sem se aperceberem, estão a contribuir para uma melhor saúde não só dos seus animais como deles próprios e dos seus vizinhos. O mais difícil foi controlar os cães, que parecem ter um faro bastante apurado para veterinários e estudantes, mas os donos foram-nos facilitando a vida, segurando-os o melhor que podiam. Pontualmente, também existem campanhas de castração, em que uma pequena clínica é improvisada junto da população, de forma a garantir o controlo do número de animais. Percebemos que se não fossem estas campanhas, muitos donos nunca levariam os seus animais de estimação à clínica, e os problemas de doenças e reprodução descontrolada agravar-se-iam.
Em menos de 4h, sob um sol escaldante, protegemos 48 cães e cadelas dos parasitas internos e externos. Muitos apresentavam sinais graves de sarna, carraças e pulgas. Aproveitou-se também para dar um suplemento vitamínico, uma vez que a maior parte destes animais tem alimentação insuficiente ou desadequada.
Depois de uma manhã cansativa, um almoço revigorante num restaurante senegalês (experimentámos thiéboudieune e yassa, dois pratos de arroz e carne, bem condimentados), acompanhado da indispensável Coca-Cola, e uma tarde de praia. Desta vez fomos de carro até às praias de S. Francisco, a cerca de 20 minutos da cidade. Finalmente estivemos numa praia que superou as nossas expectativas! A paisagem árida encontrava-se de repente com um mar de águas calmas, numa grande baía, com algumas palmeiras e areia escura.
Até ao final da tarde relaxámos na praia quase deserta e aproveitámos a excelente temperatura da água.
Dia 8 – Sexta, 19
Em Cabo Verde, à Quinta-feira que antecede a Páscoa chamam “Quinta-feira Santa”, e à Sexta-feira, chamam “Sexta-feira Paixão”. É feriado. Tivemos um dia tranquilo, passado principalmente na praia Quebra Canela, mesmo no centro da cidade.
À noite ainda houve tempo para ir ao Bar Kaku, na rua pedonal perto do apartamento. Este bar bem simpático fica num canto renovado da rua pedonal, tem mesas em madeira e música ao vivo. O ambiente é descontraído e cativa públicos de todas as nacionalidades e idades. Pudemos ouvir música tradicional cabo-verdiana, ou morabeza, a palavra que aqui usam para designar o que é tradicional de cada ilha (provavelmente equivalente a folclore, em Portugal). Uma senhora com uma voz espectacular era acompanhada de guitarras. Gostámos muito e provavelmente ainda vamos voltar!
Dia 9 – Sábado, 20
Mais uma manhã de campanha! Depois da pausa do feriado, retomamos a campanha na zona de Lem Ferreira. O trabalho prosseguiu no mesmo formato, casa a casa, cão a cão. Mais uma vez, durante mais de 3 horas, livrámos dezenas de cães dos seus parasitas.
No final do trabalho experimentamos o tradicional cuscuz, feito por uma das senhoras cujos cães desparasitámos. Era bastante diferente daquele a que estamos habituadas. Aqui o cuscuz é um bolo de farinha de milho e mel de cana, muito consistente e saciante.
Do trabalho seguimos para a Cidade Velha. Este núcleo histórico, património da UNESCO desde 2009, fica a 12 quilómetros da Cidade da Praia, no Município da Ribeira Grande. Foi a primeira cidade construída pelos europeus nos trópicos e onde nasceu Cabo Verde. A Cidade Velha era, no século XVI, um ponto importante na rota do tráfico de escravos, sendo também um local de extrema importância entre as colónias portuguesas da África Ocidental. É também considerado o berço da língua crioula.
Do ponto de vista histórico, destacamos o pelourinho manuelino na praça principal e as ruínas de edifícios antigos, mas o que nos marcou realmente foi a mudança de paisagem. Na Cidade Velha a vegetação é tropical, contrastando fortemente com a aridez da Cidade da Praia e de todo o caminho que separa as duas localidades. Os caminhos estão rodeados de árvores de manga, plantações de mandioca e batata doce, cajueiros, bananeiras e cana d’açúcar.
Já mais afastada do centro, ao fim de um caminho de terra de cerca de 400 metros, encontramos uma pequena produção de grogue. O grogue é a bebida alcoólica típica da região, feita a partir da calda de cana d’açúcar (semelhante à cachaça brasileira). Foram-nos explicados, e testemunhámos, todos os passos da produção, desde o corte e maceração, até à destilação. Ainda provámos o produto final (muito alcoólico!!) e mastigámos cana d’açúcar acabada de cortar!
Dia 10 – Domingo, 21
Como seria de esperar, sendo Domingo de Páscoa, tudo na cidade estava fechado. Passeámos a pé e fizemos um pouco de praia. Foi um dia de descanso para nos prepararmos para a semana de trabalho que se avizinhava!
Dia 11 – Segunda, 22
De volta à clínica, as tarefas foram inúmeras. Um dos casos foi o de um cão que tínhamos sinalizados na campanha de sábado, por ter um tumor em estado muito avençado, inclusivamente já ferido. Foi feita uma cirurgia de remoção do tumor, e o cão está em recuperação, mas certamente ganhará maior qualidade de vida. É comum os cães serem trazidos à clínica apenas quando os problemas atingem proporções extremas, o que dificulta muito o tratamento e piora consideravelmente o prognóstico.
Quase todos os dias há novos cachorros para adopção. A estes é dado banho, feita a desparasitação e os tratamentos necessários, para que fiquem de boa saúde e em bom estado de higiene. Estes cuidados, para além de necessários às saúde, facilitam a adopção, já que, pelos casos com que contactamos, as pessoas da região apreciam cachorros bem nutridos e com bom aspecto, ainda que a partir do momento da adopção/aquisição, nem sempre cumpram as suas responsabilidades enquanto donos.
Ao final da tarde, fomos conhecer o Mercado da Sucupira, uma feira enorme, no centro da cidade, onde é possível encontrar um pouco de tudo, desde comida a vestuário e mobiliário, passando pelas peças de artesanato.
Dia 12 – Terça, 23
Terça feira foi dia de folga para conhecer a bela ilha de Santiago!
O destino final foi o Tarrafal, mas aproveitámos para fazer algumas paragens no caminho. Saímos às nove da manhã e o dia estava quente! Ao longo da viagem deparámo-nos com uma paisagem maioritariamente árida e montanhosa, e mesmo com o céu pouco nublado nem sempre foi possível ver o topo das montanhas.
A primeira e muito rápida paragem foi São Lourenço dos Órgãos, onde há um Jardim Botânico, supostamente lindíssimo, que infelizmente não tivemos tempo de conhecer.
Seguimos em direção à Assomada, sempre com algumas paragens para captar as melhores paisagens. A passagem pela Assomada foi um dos pontos altos desta viagem, já que lá se situa uma das Aldeias SOS de Cabo Verde, na qual tivemos oportunidade de deixar algum material escolar que tínhamos trazido de Portugal. Fascinou nos o trabalho da organização e temos a certeza de que os donativos ficaram em boas mãos. Esta organização acolhe não só crianças órfãs, como aquelas cujas famílias não têm as melhores condições. A sua filosofia de trabalho passa por reintegrar as crianças na família biológica e apenas em última instância são atribuídas a famílias SOS. Estas crianças são acompanhadas ao longo da vida e, mesmo quando chegam à idade adolescente ou adulta, o contacto mantém-se, sendo que nessa altura os esforços da organização centram-se na preparação dos jovens para o mundo de trabalho, dando-lhes ferramentas práticas e competências aos mais variados níveis, diminuindo assim a taxa de desemprego jovem em Cabo Verde.
Daqui rumamos ao Tarrafal, passando pela conhecida Serra Malagueta e parando ainda em Chão Bom, onde foi construído pelo Governo Português do Estado Novo, em 1936, um campo de concentração de presos, que recebeu, ao longo de anos, presos tanto de delito comum, como presos políticos do regime fascista. Sentimos o ambiente pesado mas sabíamos que era uma paragem obrigatória pela pegada que deixou na História de Portugal, de Cabo Verde e das restantes colónias no período fascista.
Finalmente no Tarrafal, pudemos apreciar uma praia maravilhosa de areia branca e água cristalina, onde passámos o resto da tarde.
Regressámos ao fim da tarde e, como se o dia de passeio não tivesse sido suficientemente relaxante, fomos novamente até ao Sovaco de Cobra.
Dia 13 – Quarta, 24
De regresso a clínica, encontrámos o internamento praticamente vazio. Muitos dos casos da semana já tinha sido resolvidos. As actividades habituais continuaram.
Os cães para adoptar chegam e partem, e no tempo que passam na clínica há que dar-lhes banho, desparasitar e fazer os tratamentos necessários.
A nossa estadia está prestes a chegar ao fim…
Dia 14 – Quinta, 25
O último dia chegou muito mais rápido do que podíamos esperar. A nostalgia é imediata e as despedidas são difíceis, mas os pacientes contam com a nossa ajuda até ao último momento. O dia foi de pouco trabalho na clínica. Curiosamente, muitos dos casos foram-se resolvendo durante os 15 dias da nossa estadia, uns pela positiva outros pela negativa, mas quase como se os cães e gatos quisessem que fôssemos para casa descansadas.
O final da tarde foi para fazer as malas, mas antes da partida, tivemos direito a um churrasco de despedida organizado pela equipa da Bons Amigos! Houve direito a música, muita animação, entre adultos, crianças e até com os cães residentes, aprendemos uns passinhos de funaná e comemos perna, asa e coração de galinha! Não podíamos ter encerrado esta aventura de maneira melhor.
Regressámos já com saudades mas de coração cheio. Acima de tudo conhecemos pessoas dispostas a tudo para tentar melhorar a realidade de milhares de cães e gatos, todos os dias, numa sociedade que ainda carece de um grande trabalho de sensibilização e educação. Voltámos com aprendizagens técnicas e humanas, e com muita vontade de regressar, principalmente quando terminarmos a nossa formação e estivermos aptas a ter um impacto mais significativo no trabalho médico-veterinário.
Não queremos terminar esta crónica sem agradecer, mais uma vez, à Bons Amigos e também aos Veterinários Sem Fronteiras – Portugal, que, em conjunto, possibilitaram que abraçássemos este projecto.
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