Sou mulher, gosto de toiros …e então?
“Parece um mundo masculino ou uma arte carregada de agressividade. Ainda assim, não temos de perder a feminilidade para gostar de toiros”.
Parece um mundo masculino ou uma arte carregada de agressividade. Ainda assim, não temos de perder a feminilidade ou ter algo “rude” para gostar de toiros. Têm tanto de bravura e valentia como de subtileza e delicadeza.
Mas o que é o mundo dos toiros?
Como alguém um dia escreveu, “é como se os deuses vivessem entre os homens de vez em quando”, transformando o espetáculo tauromáquico em pura magia mística. Num universo carregado de rituais próprios, tudo se torna elegante, fundamental e essencial.
Existe uma química, um frio na barriga quando a meio de grandes lides o silêncio se torna ensurdecedor. Quando a apoteose toma conta de plateias em pé. São heróis os protagonistas, que tentam e conseguem superar-se. O público é grato e sabe reconhecê-lo.
É deliciosamente igual a sensação provocada pelo cheiro de um charuto em Sevilla, da terra molhada no Campo Pequeno, ou a emoção da banda no México! Tudo é belo, escolhido, cuidado e absolutamente fundamental.
As qualidades amplificam-se, tal como as fraquezas. Não há artifício que nos valha. É a magia de estar num momento irrepetível. Resgatam-se tradições do passado, criando mais-valias para o futuro.
As histórias -imprevisíveis e emocionantes – sempre ficam. Querem melhor detalhe? É dos poucos locais de espectáculo onde se vê o céu. Haverá cenário mais bonito? Não vale a pena enumerar mais razões. Como no amor, basta uma boa que invalide as más!
Atravessamos uma época em que as tradições estão outra vez na moda. É “giro” ir aos Santos Populares e a tascas, é cool gostar de Cante Alentejano, mas não é bom gostar de toiros. Porquê? Porque insistem alguns que gostar de animais não é compatível com gostar de uma corrida? Um toiro não é um animal domesticável ou que subsista enquanto raça se as corridas deixarem de existir.
Não é acaso que tantas figuras da arte ame e sinta a cultura taurina. De Picasso a Ava Gardner, de Hemingway a Zidane. É de uma complexidade inigualável, capaz de atrair aficionados sem olhar a estatutos sociais ou crenças. Uma simbologia que une povos.
Podemos ser desenvolvidos intelectualmente e, ainda assim, ter o “dom” e discernimento de conseguir apreciar uma corrida de toiros em todo o seu esplendor! Nem todos conseguem, é um facto, mas deviam.
Sim, sou mulher, feminina e gosto muito de toiros!
Ester Tereno | Empresária e aficionada
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