Quando é que acaba o Jornalismo?
Quando é que acaba o jornalismo? Não sei, mas sei que nesse mesmo dia acaba a democracia, e o pior é que muitos de nós não vão dar por isso até ser demasiado tarde.
Quando é que acaba o jornalismo? Não sei, mas sei que nesse mesmo dia acaba a democracia, e o pior é que muitos de nós não vão dar por isso até ser demasiado tarde.
Alegra-me porém acreditar que nada no mundo tem um destino certo antes de o ter e, como tal, só acabam as coisas que não sabemos estimar e proteger.
Todos os dias o mundo pula e avança, é verdade, mas esqueçam a parte em que, como na canção, o mundo é uma bola colorida nas mãos de uma criança. Isso não é assim. Sempre que o mundo avança, existe a crueldade de sacrificar algo ou alguém que resiste a adaptar-se ao seu pulo.
Já quase não há papel jornal e o pouco que resta será suprimido rapidamente pelas próximas gerações, cujos olhos se alimentam nos ecrãs de tudo o que é digital. A televisão essa, terá de se reinventar porque afinal já não existem horas certas para estar em frente de um ecrã.
Agora os consumidores é que decidem quando e como querem ver. Todo o consumo de conteúdos será digital e é no digital que o jornalismo está a perder a mais importante das batalhas, a da sua própria sobrevivência.
Não é simples encontrar solução, e enquanto ela não é encontrada, vivemos os dias do ilusionismo jornalístico, coelhos tirados da cartola em forma de títulos enganadores, pensados para alimentar a curiosidade das redes sociais, na esperança de terem um clique que nos obrigue a ver um banner onde não queremos e não vamos clicar, aliás, já ninguém clica em banners e sabemos muito bem o que são conteúdos patrocinados, já vimos esses truques todos e o ilusionismo nunca poderá substituir a magia de que é feito o verdadeiro jornalismo.
Na verdade, tudo isto é uma espécie de resistência improvisada contra o poder crescente do Facebook e afins que, tal como os eucaliptos, vão secando tudo à sua volta.
O jornalismo não existe para nos agradar, para escrever o que queremos ou aquilo com que concordamos. O jornalismo existe para informar, para dar conhecimento, para abrir os olhos do mundo para o que está bem e mal no mundo.
Muitas vezes esquecemo-nos disso nas redes sociais. Não são poucas as vezes em que não hesitamos na hora de atacar este ou aquele meio de informação ou jornalista, porque escreveu isto ou não escreve aquilo de acordo com aquilo que nos dá jeito ou achamos que é a verdade das verdades.
Não sei se já perceberam mas os jornalistas também falham, são humanos, não sei se já tinham reparado nisso, sim, os jornalistas são humanos e por vezes necessitam de ter mais liberdade do que todos nós para poderem escrever tudo o que querem escrever.
Nós gostamos pouco de pagar, não gostamos de pagar pela música, pelo cinema, nem tão pouco para ler jornais, era o que faltava pagar, já se paga para tanta coisa, que sejam as marcas com a sua publicidade que eu não vou ler a pagar, metam lá os banners onde eu não vou clicar e com isso paguem o jornalismo que eu vou ler de borla.
Mas não pode ser um jornalismo qualquer, tem de ser do bom, que eu cá não acredito em qualquer coisa que essa esta malta escreve, ainda hoje o blogue todaaverdadeverdadinha.br dizia que é mentira tudo o que os jornalistas escrevem, e o vídeo que eu ontem vi no YouTube dizia que o 11 de setembro é mentira e que o homem nunca foi à Lua, e eu quero lá saber disso de informação certificada.
A internet está cheia de informação! Ainda ontem li que os extraterrestres aterraram no Entroncamento e que estava tudo a ser encoberto, afinal para que necessito eu do jornalismo?
Agora que os donos dos meios de comunicação já não querem o prejuízo, agora que os anunciantes já não querem anunciar, agora que a internet está cheia de informação e contra informação de todos os lados e mais algum e nós muitas vezes não temos a cultura para perceber o que é verdade ou mentira, quem vai pagar a despesa?
Quem se vai levantar para evitar o deserto das redações e impedir que as luzes se apaguem?
Quem, no meio deste caos, vai descobrir a cura, a fórmula, a estratégia, que vai permitir a alguns sobreviverem a continuarem a garantir a verdade da democracia?
Quando é que acaba o Jornalismo?
Ele só acaba se tu quiseres.
Existem ainda muitos caminhos por explorar, eu sei de alguns, mas para já, não existe tempo para discussões nem congressos, os caminhos devem começar a ser explorados e percorridos. Afinal, mais vale tentar e falhar do que ficar sentado à espera do fim.
Como escreveu José Régio:
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
Rui Lourenço
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